domingo, 22 de março de 2015

Review: Shigatsu wa kimi no uso

"Sentem-se enquanto vos toco esta bela melodia que dá pelo nome de Shigatsu wa kimi no uso." 

Arima Kousei é um adolescente prodígio na arte de tocar piano que dominou a concorrência quando era criança e todos reconheciam o seu nome, até lhe foi atribuída a alcunha de metromono humano. Porém depois do trágico acidente com a sua mãe, que também era sua mentora Arima teve um esgotamento nervoso resultante de não poder ouvir mais o som do seu piano, mesmo claro nunca perdendo a sua audição. Passaram-se anos, e Kousei vê o mundo real como algo vazio, sem cor e monótono. Assim vai vivendo até certo dia encontrar uma rapariga que mudará drasticamente a sua vida. Kaori é uma adolescente linda, dotada de uma liberdade e um espirito jovem e irreverente, no qual o seu violino reflete esta personalidade. Ao ver Kaori, Kousei vê um de novo uma esperança, um mundo para colorir, viver e acima de tudo um novo motivo para voltar a tocar piano, no entanto como Kousei esteve fora bastante tempo e terá concorrência apertada mas Kaori estará ao seu lado para lhe apoiar, alegrar, viver e amar.


Vou ser muito sincero convosco a razão pela qual comecei a ver este anime, foi pelo facto que piano e violino são os meus instrumentos favoritos, considero os mais únicos, variáveis e versáteis. Pela sinopse parece que estamos diante de uma obra de comédia romântica, cheia de luz cor e alegria, é certo que momentos alegres e românticos não vão faltar, mas em Shigatsu Kimi no uso, o amor é visto como algo mais platónico e o único meio de o transmitir é através da música. Esta obra também tem algo único que nunca vi antes numa serie anime, e confesso que me fez refletir mais sobre a vida e o que significa viver. Shigatsu Kimi no uso, tem tanto de belo como de trágico, mostra que não existe luz sem escuridão, som sem silêncio e amor sem sofrimento.


Um dos episódios que mais mexeu comigo e fez-me ver que realidade que não pode ser assumida e tirar conclusões precipitadas foi quando Kousei aceitou a finalmente a morte da sua mãe. Saki de início é vista como uma tirana, dia após dia treinava cruelmente e intensivamente o seu filho, não o deixando fazer mais nada do que tocar piano, nem sequer permitir ao seu filho brincar com Tsubaki a sua vizinha que até desenvolve sentimentos por Kousei. Mas o simples facto de Saki empregar este tratamento cruel no seu filho foi pelo facto desta saber que vai morrer brevemente e quer deixar ao seu filho um meio para se sustentar e permitir viver, ao saber disto não só o seu filho aceita o seu amor como nós o espectador aceitamos tudo o que Kousei sofreu e viveu.


Todas as personagens complementam-se umas as outras, sendo uma especie de inversos refletindo e transmitindo sentimentos tanto de positivos como negativos. Kousei é um rapaz calmo e tímido, muito talvez por viver tanto tempo oprimido pelo medo que viveu na sua infância. Ao passo que a Kaori é uma jovem cheia de irreverência, independente e alegre. Também ainda referente a personagens temos o Watari grande amigo de Kousei e namorado de Kaori, um playboy assumido e com um enorme talento para o futebol. A Tsubaki que é uma rapariga gentil, emotiva mas que guarda muito para si, tem sentimentos por Kousei desde a desde a sua infância e gostaria que este deixasse de se preocupar pela música porque acredita que a música rouba sempre o seu amor. O seu nome significa Camélia, que é uma flor, significando transição entre a vida e morte, o que faz sentido porque nos minutos finais devido aos trágicos incidentes, Tsubaki tomará o lugar de Kaori na vida de Kousei. E para finalizar os rivais amigáveis de Kousei, Emi e Aiza, que mais tarde ficamos a saber a razão pela entraram neste mundo foi porque em crianças Arima os inspirou a seguir estes passou, e Nagi uma menina muito jovem que também já demostra já enorme talento para tocar piano. Como podem ver todas as personagens como disse anteriormente são inversos, reversos da mesma moeda, todos com os seus dramas (nada muito exagerado), as suas preocupações, virtudes e desejos, porque acima de tudo este anime é uma obra muito relacionável e humana.

A animação é um jogo intenso de luzes, cores quentes envolta num mar de emoções fortes e profundas.
Nos momentos musicais esta frase vai fazer bastante sentido toda a parte técnica de Shigatsu wa kimi no uso é realmente assombrosa, os movimentos especialmente os de Kaori quando toca violino são dotados de uma animação suave mas muito intensa, aliado a dedicação que a equipa de produção teve durante toda serie, desde até ter músicos profissionais a tocar, diria até mesmo representar porque a musica canaliza tudo o que Shigatsu wa kimi no uso é e transmite. Outro episódio que a animação tem destaque muito importante é quando Kaori já em fase terminal vai perdendo a luz e tonalidade ficando pálida, a primeira vista pode parecer algo corrente mas asseguro-vos este simples efeito terá um peso considerável nos episódios finais.


Ainda em respeito aos seus aspectos técnicos o som conta, com uma banda sonora poderosa muito na sua maioria composta por obras de músicos ilustres como Chopin e Bach. Também outro aspecto a salientar a banda sonora esteve sempre presente nos momentos chave e tanto a abertura como encerramento foram de novamente contrastes. Ao passo que a abertura é alegre e vibrante, o encerramento é triste e profundo onde até é possível verter algumas lagrimas.


Outro jogo que Shigatsu wa kimi no uso (A tua mentira em Abril) faz o espectador é com o título que só faz mesmo sentido nos instantes finais. Contrariamente a muita gente eu não derramei lagrimas externas de tristeza, mas sim derramei lagrimas interiores de felicidade e realização por ter presenciado uma grande historia, muito bem escrita, dotada de grandes personagens e momentos únicos. Morte nem sempre o fim de algo ou alguém, esse alguém só morre realmente quando nos esquecemos dele, esta obra é na sua essência, um mecanismo de cura, aceitarmo-nos a nós próprios, tomar o primeiro passo mesmo que seja com ajuda de outra pessoa, e finalmente saber dizer e aceitar dizer o adeus quando esse tempo chegar. Sem sombra de dúvida uma das melhores series anime que tive o prazer de assistir e acima de tudo viver. Kaori e Kousei viveram sempre nas nossas memórias, acima de tudo viveram sempre nos nossos corações.

10/10

"Final da actuação."

sábado, 3 de janeiro de 2015

Review: Ookami Shoujo to Kuro Ouji


Tudo em nome do amor...e de um punhado de interesses!
Sinopse

Ah, o que não fazemos para pertencer-mos a malta fixe da nossa escola. A Erika, a protagonista desta história, não é diferente. No auge dos seus 16 anos conta histórias e mais histórias às amigas da turma sobre o seu maravilhoso namorado. O problema? Ele não existe. Quando as amigas começam a desconfiar da mentira, a Erika tem uma brilhante ideia. Tirar foto do primeiro rapaz que veja na rua e contar para todas que era o seu namorado. Tudo parecia correr sobre patinhas quando de repente lhe aparece o rapaz da foto na sua escola. Quando ela tenta explicar-lhe a situação o rapaz decide ajudá-la. Parece que finalmente as estrelas estão a sorrir para a nossa amiga… ou talvez não. O Kyouya, o que muitos pensam ser um autêntico príncipe encantado é na verdade um príncipe sádico, sarcástico e sem ética moral mas com uma enorme admiração por cãezinhos portanto decide fazer de Erika a sua próxima cadelinha se esta deseja continuar com a farsa. Assim começa uma história que explorará o mau, menos mal e muito mal numa relação de namorados.
Força Erika! Mais um pouco e livras-nos dele!
Personagens
Estas personagens fazem com que Ookami Shoujo to Kuro Ouji seja dos animes Shoujo mais relacionáveis e de certa forma, mais cruéis que alguma vez vi.

Erika Shinohara – A Erika parece ser a vossa rapariga normal de 16 anos, porém a sua aparência doce e delicada contrasta com a sua personalidade manipulativa, compulsiva, mentirosa e de certa forma oportunista. É sabido que é determinada no entanto tem receio a demonstrá-lo a Kyouya. Mas nem tudo é mau em si, veremos situações onde o seu bom coração virá ao de cima.



Sata Kyouya 
-  Eu nunca pensei dizer isto mas encontrei uma personagem que odeio mais do que Shinji Ikari da popular e célebre série Neon Genesis Evangelion. Este sujeito, para as meninas, pode parecer o rapaz ideal: loiro, doce, ternurento, preocupado com a vossa felicidade e bem estar e –STOP! Esta faceta não poderia estar mais longe das verdadeiras cores do Kyouya: sempre com ar de enjoado como tem consciência do seu bom físico. É manipulativo, sádico e desprovido de sentimentos, explorando a pobre Erika de todas as maneiras e feitios, na sua maioria psicológicos. Com o passar do tempo desenvolve uma personalidade de protetor e fica com inveja quando os outros rapazes se aproximam de Erika. O Kyouya também tem uma irmã mais velha com uma personalidade tão má ou pior que a sua e uma mãe divertida e carinhosa.


Lassie is the best waifu!
Ayumi Sanda - A Ayumi é a melhor amiga de Erika, é a única que sabe da relação falsa da lobinha e do príncipe negro, não se cansa de lhe dar conselhos e dizer para parar de mentir de uma vez por todas. Amigável, calma e leal, esta é provavelmente única boa pessoa na vida da Erika.


Takeru Hibiya Um colega de Kyouya, o Takeru é um rapaz de personalidade forte e simples. Muito entusiasta em todas as suas ações, ele é por excelência um bom rapaz e alguém com quem sempre podemos contar. Como é desportista tem sempre o hábito que andar de camisa semi-aberta e mostrar ao mundo os seus ABS! ABS! ABS! ABS! Ele irá ajudar Kyouya durante a série ao longo de várias situações.

Yuu Kusakabe - Este rapaz para o qual a Erika, a meu ver, foi uma autêntica bitch, é o oposto de Kyouya: sincero, amável e mais preocupado no bem estar de quem ama. Tem sentimentos pela Erika. Como não tem confiança em si mesmo é visto como um estranho para o resto dos seus colegas.
 
Aki Tezuka e Tachibana Marin 
- Normalmente, as personagens secundárias ou até figurantes não costumam causar grande impacto numa série. Em Ookami Shoujo to Kuro Ouji, as suas adoradas colegas de turma e melhores amigas são a causa da Erika se colocar em todo o tipo de situações e peripécias muito porque estão sempre a esfregar na sua cara: "Olha Erika, estive com o meu namorado numa estância de esqui, olha para nós todos felizes!!!" Fazendo assim com que a pobre jovem arranje problemas atrás de problemas.
Estive aqui com o meu namorado oh my gawd!
                                                      
Aspectos técnicos
Embora a narrativa seja um pouco diferente dos Shoujos tradicionais, Ookami Shoujo to Kuro Ouji conta com características técnicas diversificadas dentro deste género. A iluminação clara e os tons pastel, muito recorrentes neste género de obras, preenchem um ecrã num jogo de cores simples e doce. O público-alvo é francamente estabelecido não só pelo enredo base 
mas igualmente por todo um cenário calmo, onde o foco da qualidade técnica recai sobre o desenho dos protagonistas; o que se reflete numa obra simplista em design, porque também aqui também não é esse o alvo. A nível sonoro, aparte do opening divertido e algo catchy, o som é quase inexistente. Sei que não sou a pessoa mais indicada para vos falar deste género, mas notei que a nível sonoro podia ter sido melhor tendo falhado a causar impacto em certas cenas. 

Aqui está o tradicional traço artistico shoujo de vos falei acima.
Conclusão

Admito, a razão pela qual comecei a acompanhar esta história de amor disfuncional foi pelo facto de a achar, como acima referi, terrivelmente relacional e cruel. Partindo do início; para muitas raparigas a entrada para o ensino secundário é quase uma prova de vida ou morte, aquele desejo de ser popular, correspondida e de não ficar sozinha. Da mesma maneira que os rapazes de boa aparência podem ser cruéis e manipular jovens num jogo psicológico como vemos ao longo de toda a série, por exemplo, ao longo do anime a Erika vai ficar mais do que uma vez bastante zangada com o seu suposto namorado, mas este assim que lhe oferece um colar magicamente tudo fica bem. Este acontecimento não só evidência o tratar a Erika como a sua cadelinha como temos um índice encoberto do que é materialismo numa relação entre namorados. Por último e não esquecendo as supostas amigas de Erika, elas são estéreotipo daquele grupinho de garotinhas, que como quem nos quer bem costuma dizer: "cuidado com as más companhias!" e Erika não podia ter escolhido piores. Não só a levam a mentir compulsivamente para entrar nas suas graças, entra em todo o tipo de sarilhos, no final chegamos à conclusão que também se aproveitam da protagonista para alimentarem o seu ego ainda mais. Como podem ver, 
Ookami Shoujo to Kuro Ouji é terrorificamente "real" em termos de situações. Infelizmente vi-me em diversas delas e aposto que quem decidir seguir certamente será esse o caso. Muitos de vocês que acompanharam esta review podem perguntar: "Então esta obra não um cliché de shoujo troupes?". Teoricamente sim, mas acreditem: este é um shoujo bem fora dos padrões comuns. Com isto digo-vos quem quer assistir a um shoujo tradicional este não será a melhor escolha e existem certamente melhores opções, se como eu querem algo diferente e relacionável então não precisam de procurar mais. Ookami Shoujo to Kuro Ouji a meu ver deve ser visto por todos; não só aprendemos como o ser humano pode ser o animal mais cruel de todos como podemos aprender várias lições de vida.